- Helena Marques
Eu erro, tu erras, ele erra.
Atingir metas, prazos, rígidos padrões de beleza, não é apenas cansativo, é o verdadeiro predador psíquico.
A exposição performática, a busca desenfreada nos aplicativos de relacionamento, a estética esteriotipada, ocupa espaços cada vez maiores nas relações sociais, que por um lado se intensificam por meio das redes sociais, por outro se fragilizam na vida real.
A autoexigência convive lado a lado com o medo do fracasso, provocando insegurança.
Somos menos do que gostaríamos. Quase sempre.
A busca da perfeição leva a armadilha do controle obsessivo. Aquilo que pensamos estar sob controle, é na verdade o que nos escapa.
A plenitude é uma falácia. A falta, ao contrário, é o que movimenta. A zona de conforto não possibilita o exercício da criatividade. Prende no mais do mesmo.
Sair fora da caixa, pode comprometer as certezas, mas estacionar no conhecido, é como cimentar um jardim. Tudo fica limpinho e nada cresce.
Na psicanálise, desejo e falta caminham juntos. Quando atingimos o que desejamos, outro desejo se impõe, e assim por diante. Repetimos a busca. Sempre. Recordar, repetir, elaborar, Freud -, e para sempre errar, acertar, tentar errar de novo. Por quê não? É na vertigem que se cresce.
Gastamos a libido tentando preencher nossos vazios. Podemos chamar isso de Neurose? Mercúrio retrógrado? Azar? Repetição de padrão? Loucura? Azar?
Vida, acredito, o que faz a roda girar.
A compreensão de que:
Somos seres conflitados, Somos seres desejantes, Somos respostas das nossas ambivalências, não apenas resgata a humanidade, mas pode liberar as amarras do medo do fracasso. Olhar para as lacunas das histórias de vida, ressignificando-as por meio da análise, é a saída da armadilha perversa da perfeição.
Helena Marques.
